A Secretaria de Saúde de Belém identificou um surto do mal de Chagas na cidade. A principal suspeita de transmissão da doença recai sobre a contaminação da fruta mais consumida no Pará, o açai.
Este ano, 41 casos foram confirmados em Belém. Mais da metade, só em outubro. O número é quase três vezes maior do que o registrado em todo o ano passado. No estado, 85 pessoas ficaram doentes este ano. Dez morreram.
"É extremamente preocupante, eu diria vergonhoso, nós termos uma mortalidade desse tipo. Porque nem mesmo nas regiões hiperendêmicas de doença de Chagas no Brasil e na América do Sul se via quadros tão graves como esse”, avalia Aldo Valente, do Instituto Evandro Chagas.
Equipes de saúde estão investigando, caso a caso, para tentar descobrir como os pacientes foram infectados. Só em um bairro da periferia de Belém, nove pessoas tiveram a doença de Chagas depois de tomar açaí em quatro pontos de venda na região. Nesta terça-feira (25), a Vigilância Sanitária interditou os estabelecimentos.
Dário Meira realiza um bom trabalho na área de Combate às Endemias. Conta com uma equipe de 10 (dez) Agentes de Combate às Endemias (ACE), sendo 01 (um) fixo no distrito de Planalto Íris. Dentre os Agentes, 01 (um) faz o acompanhamento mensal dos PITs ( Posto de Informação de Triatomíneos) nas localidades específicas, onde estão instalados. São 12 (doze) PITs instalados no município, sendo 01 na sede, distrito de Planalto Íris, Ponto Novo e demais nas regiões da zona rural (Terra Seca, Buri, Lagoão, Jaguarana, Recreio, Rio dos Índios, Água Branca, Lagoinha e Riachão).
Os PIT’s são uma estratégia de vigilância passiva dos vetores da doença de Chagas que facilita o acesso dos moradores às ações de Vigilância em Saúde. Os PIT’s tem como função o recebimento de insetos suspeitos de serem barbeiros trazidos por membros da comunidade local (morador/colaborador) ao notificante que é o responsável pelo PIT. Este entrega o inseto a um agente de saúde que encaminhará para identificação e, posteriormente, se necessário, organizará a inspeção detalhada da unidade domiciliar e a aplicação de inseticida.
O notificante ou informante pode ser um Agente de Saúde da Família, morador ou comerciante da comunidade, enfim, uma pessoa que seja referência na localidade e que se dispõe, voluntariamente, a receber os insetos e entregá-los aos servidores da Vigilância Municipal.
DOENÇA DE CHAGAS
Doença causada pelo protozoário parasita Trypanosoma cruzi que é transmitido pelas fezes de um inseto (triatoma) conhecido como barbeiro. O nome do parasita foi dado por seu descobridor, o cientista Carlos Chagas, em homenagem ao também cientista Oswaldo Cruz. Segundo os dados levantados pela Sucen, esse inseto de hábitos noturnos vive nas frestas das casas de pau-a-pique, ninhos de pássaros, tocas de animais, casca de troncos de árvores e embaixo de pedras.
Transmissão
A doença de Chagas não é transmitida ao ser humano diretamente pela picada do inseto, que se infecta com o parasita quando suga o sangue de um animal contaminado (gambás ou pequenos roedores). A transmissão ocorre quando a pessoa coça o local da picada e as fezes eliminadas pelo barbeiro penetram pelo orifício que ali deixou.
A transmissão pode também ocorrer por transfusão de sangue contaminado e durante a gravidez, da mãe para filho. No Brasil, foram registrados casos da infecção transmitida por via oral nas pessoas que tomaram caldo-de-cana ou comeram açaí moído. Embora não se imaginasse que isso pudesse acontecer, o provável é que haja uma invasão ativa do parasita diretamente através do aparelho digestivo nesse tipo de transmissão.
Sintomas
Febre, mal-estar, inflamação e dor nos gânglios, vermelhidão, inchaço nos olhos (sinal de Romanã), aumento do fígado e do baço são os principais sintomas. Com frequência, a febre desaparece depois de alguns dias e a pessoa não se dá conta do que lhe aconteceu, embora o parasita já esteja alojado em alguns órgãos.
Como nem sempre os sintomas são perceptíveis, o indivíduo pode saber que tem a doença, 20, 30 anos depois de ter sido infectado, ao fazer um exame de sangue de rotina. Meningite e encefalite são complicações graves da doença de Chagas na fase aguda, mas são raros os casos de morte.
Evolução
Caindo na circulação, o Trypanosoma cruzi afeta os gânglios, o fígado e o baço. Depois se localiza no coração, intestino e esôfago. Nas fases crônicas da doença, pode haver destruição da musculatura e sua flacidez provoca aumento desses três órgãos, o que causa problemas como cardite chagásica (aumento do coração), megacólon (aumento do cólon que pode provocar retenção das fezes) e megaesôfago, cujo principal sintoma é a regurgitação dos alimentos ingeridos. Essas lesões são definitivas, irreversíveis. A doença de Chagas pode não provocar lesões importantes em pessoas que apresentem resposta imunológica adequada, mas pode ser fatal para outras.
Tratamento
A medicação é dada sob acompanhamento médico nos hospitais devido aos efeitos colaterais que provoca, e deve ser mantida, no mínimo, por um mês. O efeito do medicamento costuma ser satisfatório na fase aguda da doença, enquanto o parasita está circulando no sangue. Na fase crônica, não compensa utilizá-lo mais e o tratamento é direcionado às manifestações da doença a fim de controlar os sintomas e evitar as complicações.
Recomendações
* Como não existe vacina para a doença de Chagas, os cuidados devem ser redobrados nas regiões onde o barbeiro ainda existe, como o vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, e em algumas áreas do nordeste da Bahia;
* Pessoa que esteve numa região de transmissão natural do parasita deve procurar assistência médica se apresentar febre ou qualquer outro sintoma característico da doença de Chagas;
* Portadores do parasita, mesmo que sejam assintomáticos, não podem doar sangue;
* A cana-de-açúcar deve ser cuidadosamente lavada antes da moagem e a mesma precaução deve ser tomada antes de o açaí ser preparado para consumo;
* Eliminar o inseto transmissor da doença ou mantê-lo afastado do convívio humano é a única forma de erradicar a doença de Chagas.
Fonte: Site Dráuzio Varella
CICLO DA DOENÇA DE CHAGAS
Imagem do Site da Fiocruz
BARBEIRO